Diario da Viagem (parte I)

No dia 15 de julho iniciaram as ferias na Escola Latino Americana de Medicina, regressamos as aulas em 3 de setembro. A maioria dos estudantes estão resolvendo os tramites para viajar para suas casas. Em alguns dias a escola vai estar vazia.... os companheiros do movimento que viajaram também estão organizando suas passagens.... durante as duas primeiras semanas de férias se passa uma serie de problemas com a compra da passagens do companheiro Tiaraju e a minha que vai impossibilitar nossa viagem... ao fim dessas duas semanas a escola já está deserta, a maioria dos meus amigos já viajaram, minha namorada já viajou... não foi muito feliz ver todos partirem....já não quero estar na escola.... ainda durante as semanas em que acreditávamos poder viajar, Tiaraju e eu sentamos a conversar varias vezes sobre as atividades que realizaríamos no Brasil nessas férias.

Nossa principal preocupação era se realmente teríamos conhecimento dos assuntos que nos questionariam sobre Cuba. E chegamos a conclusão que, irresponsavelmente, ainda ignorávamos questões fundamentais. Passamos mais de ano estudando somente medicina, e não nos organizamos para estudar bem sobre a Revolução....Cuba oferece mil maneiras para ser conhecida, mas aprender sobre esse pais depende do seu interesse, há pessoas que vivem aqui sei anos, e saem sem ter certeza qual foi o ano de triunfo da revolução, porque caem na pratica que eu chamo de viver como turistas, e eu quero viver esses seis anos em Cuba assim como vivem os cubanos....

Ao ter certeza de já não viajaríamos nos concentramos em discutir como seriam nossas férias, essas teriam que ser um grande passo para aclararmos a duvidas que ainda temos sobre a Ilha....pensamos alguns lugares históricos para conhecer, agora devíamos definir como viajar, se em ônibus, trem ou de carona.... a idéia definitiva teve Tiaraju, viajaríamos em bicicleta... nos pareceu a forma mais ideal para cumprir nosso objetivo de conhecer Cuba, porque assim passaríamos por muito mais cidades, por pequenos povoados, teríamos maiores chances de fazer muito contato com os cubanos, e assim escutar da palavra deles a historia desse país e de sua Revolução. E quem melhor para falar sobre a Revolução do que quem a constrói a mais de 49 anos.....

Ao grupo se uniu mais dois companheiros do mst, Waldemar que vai ao terceiro ano, e Jonas que vai iniciar o primeiro. Conseguimos 4 bicicletas emprestadas. “Nossas Poderosas”. Levamos elas para alguns apertos e uma dose de graxa. Conseguimos um mapa, no qual já traçamos nossa rota... a olho nossos cálculos somam mais de 500 km, o destino final será a cidade de Camaguey, nessa Faculdade de Medicina estudam os militantes do movimento que já saíram da ELAM, e também o restante da maioria dos brasileiros.... não temos muita idéia do dia em que chegaremos, calculamos fazer em media fazer 70 km por dia.... combinamos começar a pedalar ainda de madrugada, descansar as 10 da manhã e seguir as 2 da tarde até alcançar um lugar pra comer e dormir...

A todos os cubanos que contamos sobre a viagem nos disseram que era loucura... bem, já era tarde demais para desistir...

...Material de viagem...
>>Bicicletas
>>>Mochilas
>>>>Dois sacos de dormir
>>>>>Duas garrafas de água, 2 litros
>>>>>>Protetor solar
>>>>>>>Repelente
>>>>>>>>Lanterna
>>>>>>>>>Maquina fotográfica
>>>>>>>>>>Coragem

Terça feria, 31 de julho, 5 e 30 da manhã, ainda está muito escuro quando deixamos a escola.... A ultima coisa que fiz antes de pegar a estrada foi escrever uma carta a minha família sentado na escada do meu edifício, deixei ela com Cláudio, o companheiro que viajava.... estou preocupado porque não conseguimos comprar nada de comida, nessa manha só levamos água... antes de sair da escola encontramos um senhor que nos da uns últimos conselhos de viagem.... as estradas não tem muita iluminação, mas por sorte saímos numa noite de lua cheia, se eu acreditasse diria que isso poderia ser um bom sinal....tínhamos o desejo de ainda no primeiro dia deixar a província de Havana. Logo nos primeiros km de viagem me dou conta que cometi um erro grave, carrego uma mochila muito pesada, reviso mentalmente tudo o que levo e não consigo pensar em nada que poderia estar pesando tanto, muito menos lembro de algo que poderia deixar pra trás... pedalamos pela auto pista, acho que todos estamos um pouco tensos... em algumas horas o sol nos alcança.... em 30 km pedalados já estou bem cansado, o peso da mochila esta me matando... mais vários km a frente um policial nos para anunciando uma multa, é que em Cuba não se pode pedalar na contra mão, imploramos pra ele não multar agente explicando que era a primeira vez que saímos e afinal nos perdoou e deixou passar... nos animou ao dizer que já tínhamos pedalado 35 km...paramos para nosso primeiro café da manha, pão e mortadela com um batido de fruta... a essa altura já descobrimos que ao contrario do que imaginávamos a maior dor que sentiríamos não era nas pernas, mas sim na bunda, todos sentíamos uma dor insuportável, não era possível seguir dessa forma. Então tive a idéia de alcochoar nossos bancos com algumas roupas, assim também livrava um pouco o peso da mochila... os bancos pareciam almofadas, assim salvamos nossas bundas... a cada km minha mochila parecia pesar mais, já não consigo acompanhar o ritmo do grupo... são quase 10 da manhã, o sol ta castigando. Alcanço os guris já descansando debaixo de uma árvore na beira da estrada. Conseguimos comprar outros pães e algumas mangas, esse foi nosso almoço, e nessa sombra descansamos até as 2 e 30...aproveito para ler um livro que levo comigo, não consigo dormir pois faz muito calor, e a sombra da arvore é tão pequena que a cada dez minutos temos que nos mover para fugir do sol.... verificando o mapa estabelecemos como meta do dia chegar até a cidade de Guines, é a ultima cidade da província de Havana... estou curioso e preocupado pelo lugar onde passaremos nossa primeira noite... não ha placas, estamos calculando a distancia pelo mapa, pode ser que esteja muito mais longe do que imaginamos.... depois já era cerca de 7 da noite quando alcançamos a entrada da cidade de Guines, estamos todos muito esgotados, Waldemar reclama que suas pernas estão travadas, eu já estava imaginando que não chegaríamos. Uma placa indica que Guines está 5 km saindo da auto pista, paramos mais a frente num restaurante a beira da estrada. A comida era cara, mas chorando para o cozinheiro, nos fez pela metade do preço. Não tínhamos condições de pedalar nem mais 1 km e começava a escurecer, e o senhor do restaurante que mora em Guines nos diz não ter lugar para poso na cidade... Vi que atrás do restaurante tinha um pátio de pedra desocupado..., depois de convencer o guarda do local que não tínhamos condições de seguir viagem, aí foi onde passamos nossa primeira noite...sem banho... calculamos que fizemos cerca de 80 km... esse primeiro dia foi nossa prova de fogo...

Despertamos as 4 da manhã e demos inicio ao nosso segundo dia de viagem, dia 1 de agosto... um dia especial numa terra distante, aniversario do acampamento, aniversario de luta, um sonho que na terra daqui já é real.... Resolvi o problema do peso da mochila, já não carrego ela nas costas e sim no cano, como passageiro, isso ta facilitando muito minha pedalada. São as 7 da manhã, começo a sentir muita fome, não há nenhum ponto de comida a vista, me sinto muito fraco, comemos pouco no dia anterior e saímos muito cedo sem comer nada. Pedalo mais uns metros e não agüento, estou ficando tonto, desço da bicicleta e deito no asfalto, estou exausto. Havia um chácara onde paramos, decidimos chegar na casa e pedir algo de comer, por muita sorte o senhor da casa vendia doces... Comemos muito e descansamos por uma hora, enquanto conversávamos com o ultimo havanero antes de se chegar a próxima província. Esse senhor nos perguntava sobre o Brasil, e por felicidade nossa não era sobre o carnaval e as novelas que queria saber, e sim sobre a política, a pobreza, a realidade. Também nos contou sobre a sua realidade, sobre cuba, foi muito sincero, e nos deu uma perspectiva sobre as condições da vida dos cubanos que eu ainda não havia escutado. Ainda me surpreende muito como mesmo os cubanos que vivem longe dos centros urbanos possuem uma forte consciência política. Parece que a saída de Havana nos prometia bons encontros..... Mais 25 km chegamos num posto de gasolina conhecido como El Conejito, isso já significava que alcançamos uma nova província, já estamos em Matanzas.



Nesse lugar vende comida, pois também é uma parada de ônibus e caminhões. Pedimos um balde emprestado e com a água de uma torneira do posto tomamos nosso primeiro banho. Também aproveitamos para comer. Nosso almoço foi pão e abacate. Nossa próxima parada deve ser a cidade de Jaguei Grande, que está a 80 km do El Conejito. Funcionários do posto nos informaram que o caminho até Jaguei é muito deserto. Como nosso objetivo de viagem não é o simples esforço da pedalada e sim conhecer pessoas decidimos pegar uma carona de caminhão.... são as duas da tarde e já estamos na estrada de novo, agora de carona. O caminhão leva mais gente. Pelo caminho só se via plantação de cítricos. Era pé de laranja que não se via fim. E não se via uma casa. Tive um forte pressentimento de que se tivéssemos tentado pedalar esse percurso tínhamos morrido de fome e sede.... na metade da viagem levamos um tremendo susto, um pneu do caminhão estourou. Foi mais de meia hora debaixo do sol esperando o motorista trocar o pneu. Faz muito calor, o asfalto está fervendo, tudo o que toco está fervendo. Afinal seguimos viagem. Já faltando 10 km para chegar a Jaguei uma peça do caminhão quebra, e isso já não teve concerto. Os cubanos que viajavam com nos saem a buscar outra carona.... o transporte em Cuba é um dos principais problemas que enfrenta o governo e a população, não se trata apenas de não conseguir renovar a frota de onibus, mas também de ter um numero suficiente trabalhando, pois não há combustível suficiente, nem peças para manutenção, fruto do maldito bloqueio econômico imposto pelos EUA, então pegar carona também é uma das principais formas de viajar em Cuba.... Agente antes de começar a pedalar caminhamos até o laranjal. Por azar,as laranjas eram impossíveis de se chupar, acho que servem apenas para suco, eram azedissimas.... Vemos que parou um outro caminhão para guinchar o quebrado. Então ainda vamos de carona. Agora alem de nós quatro segui apenas um cubano. Esse tipo tinha me chamado a atenção desde que havia estourado o pneu, pois foi o que mais se disporia a ajudar o motorista. Ele se interessa pela frase da camisa que Tiaraju veste, Prefiro morrer lutando do que morrer de fome, frase da Roseli. Assim iniciam conversa. Tiaraju conta a ela sobre nossa viagem, e ao final ele nos convida para passar a noite em sua casa. Foi um convite irrecusável porque até o momento não tínhamos idéia de onde dormir nossa segunda noite. Esse senhor se chama Julio, tem seus 45 anos, vive em Jaguey, num bairro chamado Austrália, mora com o filho de 19 anos. Julio trabalha na colheita de laranja e nas suas horas livres produz pneus de bicicleta nos fundos de casa. Ele vinha de Havana, para onde viaja a cada semana a vender os pneus.... o bairro Austrália tem casas muito humildes, com a característica de um bairro de periferia do Brasil. A casa de Julio ainda está em construção, possui pouquíssimos móveis. Ao chegar na casa os guris e eu estamos desconfiados, nos parece bondade demais. Eu estava seguro que nos cobraria alguma coisa. Estrangeiro em Cuba para muitos é sinal de muito dinheiro, e poucos distinguem turista de estudante. Julio nos ofereceu água, nos apresentou alguns vizinhos, nos apresentou a seu filho, e foi nos mostrando que tinha somente um interesse, nos queria como amigos.... em Havana, por algum motivo que ainda não entendo, essa é uma característica que não se percebe tão fácil nos havaneros.... Julio nos levou em um pequeno lago que havia no bairro, o principal ponto de diversão da garotada. Aproveitamos para levar um sabão e aí mesmo tomamos banho. Pela noite Julio nos levou na casa de uma família muito amiga dele. Eles nos preparam batido, e logo uma janta. Essa é a casa de dona Maria. Sua casa também é muito simples. Uma de suas duas filhas vive com o marido e uma filhinha numa casa aos fundos da sua. Essa filha é professora, a outra está estudando medicina... A cubana Maria, com sua casa humilde, vivendo num bairro pobre, no Brasil teria o perfil para ser uma faxineira, mas aqui em Cuba, dona Maria é fisioterapeuta, e já com vários anos de formada continua fazendo cursos de atualização. Nunca gastou um peso pela sua educação nem pela de suas filhas... Rimos muito com essa família, são muito simpáticos, conversamos sobre dezenas de coisas, nos contaram um pouco sobre a Batalha de Playa Giron, na qual um grande grupo de mercenários treinados pela CIA faz a tentativa em 1961 de invadir a Cuba, no bairro Austrália ficou concentrado o Exercito Revolucionário, era o centro de comando de Fidel, que esteve na linha de frente dessa batalha.... deixamos a casa de dona Maria quando já passava a uma da manhã.... no dia seguinte quando despertamos Julio já havia saído para trabalhar. Nos deixou só na casa, nos teve muito confiança.... Chegar a Playa Giron é a meta do dia, que segundo informações está a mais ou menos 85 km de Jaguei. Estávamos entrando no território da Cienaga de Zapata, é um lugar de puro banhado e pântano. Há água dos dois lados da estrada. O caminho é bem plaino e com muita sombra, isso faz a pedalada bem mais fácil. Encontramos um parque de crocodilos no caminho. Eu nunca tinha visto tantos, havia uns gigantes. Neste lugar encontramos uma loja onde compramos nosso primeiro filme fotográfico. Fiquei muito feliz por poder começar a registrar as imagens da nossa viagem.... quase 11 a.m vamos chegando a cidade de Playa Larga. Tive a impressão de estar vendo uma miragem depois de tomar tanto sol na cabeça. Ao final de uma estrada que parecia não ter fim surge o mar... ao contrario dos navegantes que buscam terra firme, agente busca água... enquanto almoçávamos nosso pão com suco se aproximou um senhor de nome Urra. A conversa com ele foi sobre os jogos panamericanos. Urra é um apaixonado pelo esporte, principalmente pelo atletismo. Sem perder a oportunidade perguntamos qual a impressão que ele tinha sobre o acontecimento da fuga dos esportistas cubanos, e ele nos deixou claro o desprezo que sentia por esse episodio.... Urra trabalhou de pescador para o Estado durante a maior parte de sua vida, nos conta que por isso tinha a chance de fugir aos Estados Unidos de maneira muito fácil, e que barcos com cubanos da máfia de Miami se aproximavam dos barcos de pesca convidando eles a fugirem. Urra nunca poderia deixar seu país, tem amor pela sua terra, e que nada tem a reclamar da Revolução, que a defende com unhas e dentes, pois dele ela nada tirou, ao contrario, que muito lhe deu.... ansiosos para chegar a Giron deixamos Playa Larga as 2 p.m. , o sol ainda estava muito forte. Ao final do dia cumpriríamos mais de 200 km. Final de dia no qual tão pouco sabíamos onde dormiríamos... nos falta 32 km até Giron. Esses km são beirando o mar, ele vai nos acompanhando pela direita.... nossa pouco experiência de mochileiros nos faz enfrentar todo dia um certo problema, nesse dia nos alcança pelo caminho a sede. O sol ainda ta muito forte e consumimos muito rápido a pouca água que carregamos. A sede aumenta, sabemos que ainda estamos muito longe de Giron, e não há sinal casa pelo caminho.... sentindo tanta sede e com o mar ali ao lado, nesse momento essa era uma ironia nem um pouco engraçada.... pensei eu que via outra miragem, mas não, era um ponto turístico para mergulho. O lugar se chama, La Cueva de los Peces. Seguindo um caminho por um bosque se chega a um poço, como uma piscina natural, bem profundo e de águas cristalinas, estava repleto de peixes exóticos. Há um bar, todo de madeira, muito lindo, aí imaginei que não nos dariam nem água, porque apesar de estrangeiros estávamos num estado bem feio, suados, fedidos, cansados. Jonas e eu chegamos ao bar a pedir água com nossas garrafas. Já estaríamos satisfeitos com água da torneira mesmo. Ninguém poderia entender nossa expressão de felicidade quando o bar-man encheu nossas garrafas de água e muito gelo. Nos perguntou de que país éramos, e ao dizer que brasileiros a porções de gelo se tornaram ilimitadas. O cara estuda musica e adora mpb, como Milton Nacimento, Caetano, Chico Buarque. Nossa conversa se alongou e ficava mais agradável. Nos contou também que outra admiração que tem pelo Brasil é o MST, então mostrei o boné do movimento que estava usando e ele não podia acreditar que éramos militantes. Já nos tratava como grandes amigos. De água nos ofereceu um drink, devia ser caríssimo, um mistura de goiaba, coco e ron. Depois nos deu mais um batido de goiaba. Eu e os guris riamos a toa. Esse grande amigo se chama Galindo, durante as férias ele encara esse trabalho de bar-man, e na temporada de turismo é gerente de um hotel em Giron. Anotamos seu e-mail e prometemos levar, numa próxima visita, uns cds do Djavan, que ele ainda não conhece, e do Chico. Sem duvida que esse foi mais um dos encontros inesquecíveis dessa viagem..... seguimos pedalando, com as garrafas cheias de água, muito gelo e com uma certeza, não era simplesmente sorte que tinhamos em encontrar pessoas tão simpáticas e hospitaleiras, isso na verdade é o que é Cuba, assim são os cubanos.... foi a partir de então que passei a aproveitar verdadeiramente o mar, no Brasil eu nunca tive a oportunidade de ver o mar, e agora tenho um dos mais belos a minha frente, o mar do caribe.

Até chegar a Playa Giron entramos varias vezes na água para nos refrescar. O lugar me lembrava um filme antigo, A Lagoa Azul, pois é extremamente lindo. A água é claríssima, com ela ao pescoço ainda se vê os pés no fundo, parece uma piscina. Uma paisagem inesquecível. Já me da nostalgia pensar que em alguns anos deixarei tudo isso.... Chegamos em Giron as 6 e meia. Estou muito cansado, louco para tomar um banho. O suor mais a água salgada do mar no corpo está me matando.... na entrada da cidade há uma placa com os nomes de todos os soldados do exercito rebelde mortos durante a batalha.... nos indicaram um restaurante onde se paga com peso cubano, e nos asseguraram que na praia não havia perigo em passar a noite, que deveríamos buscar um senhor que cuida dos barcos dos pescadores e ele poderia vigiar nossas coisas.... a beira da praia tem um hotel e ao lado dezenas de casas, que estavam vazias pois ainda não é temporada de turismo.... encontramos o senhor dos barcos ao final da praia. Era um velhinho com seus 70 e poucos anos, vestia uniforme militar... nos explicou que os mercenários desembarcaram exatamente na praia onde pisávamos... ele passa toda a noite ali, vigiando os barcos e também o mar, sempre com a guarda alta, pronto para defender seus país caso um novo ataque.... nesse dia tomamos banho nos chuveiros ao lado da piscina do hotel que os hospedes usam para tirar a areia do corpo.... a comida no restaurante era baratissima e deliciosa. O gerente vai ser outra personagem importantíssima dessa nossa aventura. Se chama Mario, é gastrônomo, nos conta que assim se define a maioria das profissões em Cuba, pela sua formação. É um tipo sério, mas que afinal também se simpatizou com agente, tanto que se propôs a acompanhar-nos ao museo na manhã seguinte..... como não vimos a nenhum guarda vigiando as casas ao lado do Hotel, foi na varanda de uma dessas na qual nos ajeitamos para dormir. Estava ameaçando chuva, então preferimos dormir aí que na areia. Dormimos embalados com o som o mar....pela manhã fomos tomar café na banquinha de um senhor conhecido como El Mongo, aí estavam vários senhores, e cada um tinha algo a contar sobre a Batalha de Giron, pois a maioria havia tido alguma participação nela. Não são necessários livros para aprender sobre essa historia, cada um é seu interlocutor.... Giron foi a primeira derrota dos EUA na América Latina. O Exercito Revolucionário com Fidel ao comando derrotou aos mercenários invasores em 64 horas. Foi uma vitória extraordinária.... outro senhor estava vendendo mangas, eu comprei quatro, e ele me deu de presente mais cinco, ele estava interessado em conversar com agente, mas já não tínhamos tempo, nos atrasaríamos com Mario, somente soube que seu nome era Luiz.... no museo há exposição das armas usadas pelos mercenários, também fotos e vários documentos da época. Me impressionaram as cartas de Fidel convocando o povo cubano a defender o país, mas ao mesmo tempo mantendo o compromisso junto aos postos de trabalho, como era o programa de alfabetização que ainda estava em processo. Em 61 as milícias militares ainda estavam em formação, eram compostas de muitos jovens, que alem do treinamento militar realizavam como principal tarefa os trabalhos sociais, na área da saúde, da educação. A preocupação de forma primordial com o desenvolvimento humano está presente desde os princípios da Revolução....